Já morri muitas vezes na
ingratidão de pessoas queridas e amadas.
Já chorei lágrimas que nem
minhas eram pela solidariedade e pelo sentimento mágico do sofrer e amar
juntos.
Substituí, pelo amor,
pessoas insubstituíveis.
Perdi tantas vezes que
sempre busquei em mim o caminho de ganhar.
Esqueci acontecimentos que
muito me judiaram e que diziam-se inesquecíveis.
Mas, vivi!
Vivi mesmo quando só de
morte se apresentava o horizonte.
Vivi mesmo quando a vida
me indicava a estrada de morrer.
Fui derrubado inúmeras
vezes e, pela insistência, persistência e pela necessidade enigmática da missão
continuar, pus-me sempre de pé.
Suportei dores ditas
insuportáveis.
Perdoei quantas vezes
necessárias fossem pelo espírito do Deus humilde que habita a alma e o coração
dos homens e que nos faz lembrar sempre do quanto nada somos.
Transpus obstáculos da
realidade intransponível pela alegria inconteste e extremamente prazerosa do “tudo
vale a pena se a alma não é pequena”, - lema do grandioso mágico das palavras
Fernando Pessoa.
Saí fortalecido pós cada
derrota sofrida e em frente segui, confiante e esperançoso, por acreditar que
“no fim tudo dá certo. Se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim”, - conselho
do nosso tão perspicaz Fernando Sabino.
Procurei ser sensato
quando a insensatez comandava todos os meus sentidos, pela inteligência inata
que nos permite, com esforço, usar a razão como guia da emoção e do instinto.
Busquei um fio de
prudência que fosse, quando só de imprudência e irresponsabilidade era o meu
ser povoado, pois assim me situava, posicionando-me na linha reta do meu pensar
torto.
Desafiei tanto a vida que
a aventura da morte de mim fugia e renegava-me, resignando-se, por compreender
o risco inerente, constantemente inconstante, no perigo iminente do viver
desejável e indecente do mundo, mas que carrega a crença inviolável na verdade
e decência do “tudo posso naquele que me fortalece” – Filipenses 4:13.
Mas, contudo, todavia,
entretanto e, sobretudo, vivi.
Vivi mesmo quando a vida
insistia em desistir.
Vivi mesmo com a sorte a
léguas de mim distante, que corria à minha frente, em seu galope ligeiro,
certeiro e indiferente, sem querer minha chegada.
Vivi com a adversidade
visitando o meu terreiro, me fiz ser passarinheiro quando não podia andar e
caminhando ou voando, chorando ou se alegrando, construindo ou destruindo,
caindo e se levantando, planejando ou improvisando, morrendo ou ressuscitando,
fui vivendo e revivendo, vagando e porfiando, “pois quão bom é porfiar”-
(Basílio da Gama, em o Auto da Barca do Inferno).
Enfim, sempre
experimentando, e em mim revigorando a força vital do existir, a única
realidade, última oportunidade, em verdade, consequente que, irremediavelmente,
vai se haver com o inevitável, mal ou bem, inexplicável, intrigante,
incontestável, cumprindo o oráculo santo para enfim renascer.
É o começo do fim, ou o
fim do seu começo, que vai dar na eternidade, que não se sabe vida ou morte,
nem rumo sul e nem norte, se indo a desnascer.
Roberval Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Poste o seu comentário aqui