Um blog que se propõe a lhe atender meu querido leitor. Acesse sem receio, leia tudo, cure seus medos, reflita e siga em paz. Que os seus caminhos encontrem a saída e que esta porta lhe transporte à essência do insinuante e insondável sentimento do ser... Roberval Paulo
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
A ESTRADA RETA DE UM CAMINHO TORTO - Roberval Paulo
Estou na estrada reta de um
caminho torto. Um sonho acordado de um dormir mais pesadelos que sonhos. Não
sei onde parar a ouvir o que não se diz nem mesmo ao silêncio. O estampido
rouco e estridente de um inaudível som apoderou-se do meu ser e me leva a
escutar o que ninguém falou e o que nem eu mesmo disse a ninguém e nem a
mim.
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020
EU, MINHA PÁTRIA! - Roberval Paulo
Minha pátria é o meu olhar
Os meus passos, o meu pensar
Minha pátria são os meus sonhos
e todo o meu estradar
Minha pátria é tudo o que eu tenho de meu
Minha pátria é ainda um muito que eu não tenho
Minha pátria é o sangue que agita nas minhas veias
Mas também o rio que corre em minha alma
Minha pátria é o romper de uma madrugada
Que serena e sem medo anseia pela luz do dia
Minha pátria é em mim o sonho de um outro dia
Quando eu tristemente sonhava em não ter mais pátria
Mas minha pátria não é a soberba
Nem o egoísmo da capital federal
E pode até ser a capital federal
Mas sem essa malévola federalização no mal
Minha pátria não é carnaval
Quando muito, aquele antigo carnaval
Em que os salões eram cheios e repletos
De amor e de foliões só brincando e se alegrando
Meninos nas meninices como em sonho de criança
Minha pátria era a pátria da esperança!
Minha pátria é minha fé, essa força infinita
Que me levanta mesmo na adversidade
Que me levanta mesmo na adversidade
Que me suspende quando a dor se agiganta
Minha fé é que me cura da maldade
Minha pátria sou eu e o meu existir
Minha pátria é tudo que ainda está por vir
Minha pátria é o que quero para mim e para ti.
Roberval Paulo
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
ANGÚSTIAS! - Roberval Paulo
Não
sei mais por onde andar
Não
sei nem porque cheguei
Meus
caminhos caminhei
Por
entre serras e mar
Viajei
daqui pra lá
O
inverso também fiz
Risquei
o chão feito giz
Sendo o ator do meu passar
Sendo o ator do meu passar
No
quadro negro do olhar
Não
sou triste nem feliz
Feito cordão de enxurrada
Desgovernada
e sorrindo
Se
arrastando e destruindo
Sou
eu abrindo a picada
Um
rasgo no mei do nada
Sigo
formando erosão
Carregando
a nação
Viagem
desesperada
Tô
pra lá da caminhada
E ainda rasgando chão
E ainda rasgando chão
Minha
vida se varia
Quando falo de saudade
Ouço
gritos da cidade
No
cantar da cotovia
A
noite dentro do dia
É complemento do nada
Cravo
no peito a espada
Do
teu olhar matador
Me
acho no teu amor
Te
perco na caminhada
São
tempos tão conturbados
O
que hoje vivenciamos
Que
de uns tempos para cá
Não
sei nem de quantos anos
É
tanto acontecimento
Que
eu penso por um momento
Que nos desencaminhamos.Roberval Paulo
DESCONSTRUINDO A POESIA - Roberval Paulo
Minha
cidade é tão bonita!
Composta
de ladeiras e descidas
Você
sobe e depois desce
Pois
se não descesse,
Era
capaz de dar direto no céu
Mas
minha cidade é realmente bela
Repleta
de mangueiras, quintais e laranjais
Você
sobe, tira e de lá desce
Porque
se não descer,
Com
o tempo vem a cair feito manga
Minha
cidade é mesmo bela, tão bonita!
Sinfônica
na sinfonia dos pardais
Você
escuta e tome viagem no tempo
Mas
não sobe e nem desce
De
verdade, nem sai do lugar
Só
escuta e ali mesmo fica,
A
pisar na física do chão do chão
Minha
cidade é ainda mais bela e bonita
De
serenatas e donzelas nas janelas
Você
canta, ela escuta e tu corre
Porque
senão o pai dela te acerta
E
tá feita a confusão
Minha
cidade é só minha cidade
E eu sou a poesia em desconstrução.Roberval Paulo
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
CRENÇA! - Roberval Paulo
A
folha da palmeira roça o meu rosto
E
me diz palavras de vento
E
lá distante, bem antes do advento
O
coqueiro já era na beira do mar
As
baleias e o seu canto chamando o amor
O
apito do trem e a vida a passar
No
norte da vida o sino a tocar
E
os trilhos sem fim de um andar agnóstico
O
existir é maior que a razão
E
o natural é mais que qualquer plano
A
ciência é o limiar de todo engano
E
o amor não é fogo que arde sem se ver
É,
antes de ser fogo, a própria chama
Que
inflama, reclama e se porta feito dor
Mas
é em mesmo tempo a cura indolor
Que
faz a mãe amar o filho ingrato
Esquecendo
de infarto e de súbito impacto
A
dor maior, a dor sem cor
A
dor de amor, a dor do parto
A
ciência não é cura, é realmente infarto
A
natureza é que leva a vida adiante
O
homem traça a estrada errante
E
se faz perdido entre a multidão
E
eu o esteio do seio de Abraão
Que
culpa tenho eu, eu não fiz a vida!
É
que o pastor agora é a ovelha perdida
Se
perdeu do rebanho e está sozinho.
O
errar do homem é o seu existir
Que
orgulho em ir sem saber pra onde ir
E
se dizer senhor do seu destino?
Ora
pois, que destino! Qual destino?
Como
enfim a roda explicar?
A
bola do mundo no espaço a girar
E
eu rodando com meus pensamentos
Minha
cabeça na bandeja do tempo
E
eu avesso à cronologia
Mato
um leão todo santo dia
E
sou réu confesso do santo no altar
O
bom da vida é saber esperar
Mas firmar o passo tão logo nasce o dia.Roberval Paulo
EXISTÊNCIA! - Roberval Paulo
O
existir está longe de ser isso que vês
O
existir é tudo e não me iludo
Do
ópio imaterial
à
escuridão do matagal
Da
imensidão do ser
à
insignificância do ter
Penso,
logo existo!
Descartes
descarta a carta
Na
casta de um mundo real
De
um pensar que se desgasta
Se
não pensar, inexiste?
Descartes
tosse...e se engasga
Existir
é ser espaço
É
ser vento e ser andança
É
ser o risco no passo
É
ser o passo na dança
Viver
é tão perigoso!
Ainda
mais quando o vivente
Vivendo
a vida se lança
Ao
exercício de um tudo
E
vestido de esperança
Se
vai por aí sem rumo
Rumo
ao rumo da distância
Tão
distante que aproxima
A
velhice da infância
Existir
é contar estrelas e delas nada saber
Mas
saber, inclusive, que elas nos habitam
Saber
que no frigir dos ovos e da própria existência
Somos
mais estrelas que pó
Mais
espaço que esfera
Mais
trigo que pão de ló
Enfim,
mais nuvem do que artérias
Mais
espírito que matéria
Mais
multidão do que só.
Roberval Paulo
JORNADA - Roberval Paulo
Rompi com os umbrais do estradar
Adentrei
na fantasia todo altivo
Recordei
o meu tempo de cativo
Para
enfim valorar o caminhar
A
estrada sempre foi o meu manjar
É
que a mente saboreia o seguir
O
viajante não se cansa de ir e vir
E
o cansaço faz o ponto de parada
Já
me vou pra lá do meio da jornada
Compilando,
agregando e a corrigir
A
jornada dessa vida é tão astuta
Que
a estrada nunca diz como se andar
Ela
só se mostra aberta e fica lá
Se
dispõe e você faz a labuta
Como
rota ela é absoluta
Sem
ela você nunca vai chegar
A
jornada e a estrada é um mesmo lar
São
estas a bússola do viajante
Sendo
perto a viagem ou distante
Tanto
faz, vai ter que nelas passar
Então
faça da vida sua estrada
Ora
ande, ora pare a descansar
Desfrute
de tudo que ela mostrar
Ande
sempre mas também faça parada
Respire
fundo quando esta for bloqueada
Altere
a rota e planeje o próximo passo
Force
a passagem se estiver no seu espaço
Caso
contrário faça a correção de rumo
Busque
um atalho, vá com Deus e siga o prumo
E
descubra em que porto quer chegar.
Roberval Paulo
terça-feira, 7 de janeiro de 2020
O MENINO DO INTERIOR - Roberval Paulo
Esta crônica está publicada no
Jornal do Tocantins CRÔNICAS & CAUSOS, edição 07/01/2020
Conheci
Charliedson a pouco mais de um ano na empresa em que eu trabalhava. Veio do
interior tangido pela necessidade premente do estudo, buscando cursar a tão
almejada e sonhada faculdade. Chegou à nossa empresa contratado como estagiário
e trouxe-nos tanta alegria que até hoje, ao recordar-me das engraçadas
situações em que Charliedson se metia em razão da sua genuína ingenuidade,
derreto-me em sorrisos, mas também em agradecimentos por, em pleno século XXI –
em que se consolida cada vez mais a batalha dos egos, do egoísmo e da
individualidade – ter conhecido alguém ainda tão puro e tão íntegro, desprovido
e despojado da poção ambiciosa que acomete a grande maioria da nossa tão
assustadoramente mortificada população.
Charliedson
era, e, após um ano de conhecimento e de vivências compartilhadas, continua
sendo um caso a parte; um ponto fora da curva; uma laranja sã a retornar à
sanidade as laranjas a muito apodrecidas. Um sonho real em nossa tão surreal
realidade. Uma planta vicejante e alvissareira, regada pela água da simplicidade
e da transparência Divina, a sobreviver e se fortalecer em meio à densa mata
selvagem de ervas daninhas que buscam seu lugar ao sol espalhando sombras sobre
o sol daqueles que não lhes agregam benefícios.
Vivemos
a tão ultrajante regra do toma lá da cá; das relações pelas conveniências; do
respeito ao próximo, mas só quando o próximo estiver bem próximo e não ameaçar
a sua escalada, regra da qual, definitivamente, Charliedson não comunga e não
faz parte de forma alguma, tão nobre é o seu senso de responsabilidade com a
sua existência em relação à existência do outro.
Mas
não só o seu caráter reto e probo e sua consciência igualitária chamaram minha
atenção. A sua ingenuidade interiorana e matreira, seu ar de ironia sertaneja e
seu comportamento entre acanhado e feliz, fizeram-me, a cada dia, um seu ávido
e ardoroso observador e seu assíduo fã.
A
nossa Capital, ainda em plena expansão e desenvolvimento, não é assim tão
grande se comparada às grandes metrópoles, mas, para quem veio do interior,
cidade com um pouco menos de dois mil habitantes, sendo sua primeira viagem à
cidade grande, Palmas torna-se o gigante adormecido. É a metrópole vista pela
televisão e agora desnudada frente à visão arteira de Charliedson, que no seu
primeiro contato com as avenidas largas de tráfego intenso e com tanta gente
atravessando nos sinais, olhou e nem pensou para lançar a sua primeira pérola:
“Eita que com tanto carro e gente se misturando num dá nem pra saber quem ganha
essa corrida. Fico olhando e num sei quem sai na frente”.
Os
dias passam e todos os dias Charliedson traz graciosidade e liberdade para o
nosso escritório de reclusão e de portas fechadas para o mundo lá fora. Leva
bom humor aos mal-humorados e dá suporte, sem querer, aos que não mais se
suportam. Quando ele chega parece que os cadeados da sisudez e do mau humor
destravam-se e se destampam de sorrisos em resposta forçada pelo seu sorriso
franco; pelo seu olhar entre desconfiado e acanhado, mas transparente e
acalentador.
Certo
dia chegou ao trabalho às gargalhadas e dizendo: “Hoje cedo me aconteceu o
inacontecido que não tem como acontecer a quem acontece, só a mim mesmo”. E ria
de dar gosto de ver e de até imita-lo as gargalhadas. Frente aos nossos olhares
e sorrisos, ele continuou: “Minha gente, entrei no ônibus hoje desligado da
vida, dei o dinheiro ao motorista e chegando na catraca, rodei mais não passei.
Olhei pro motorista sem entender nada e ele me olhava entendendo menos ainda.
Ficamos olhando um pro outro por algum tempo sem nada falar e aí ele disse com
o olhar arregalado: –Tu num passou? Eu respondi: –Num passei. Olhamos de novo
um pro outro, desconcertados. O ônibus parado, passageiros me atropelando e
entrando, o povo me olhando e eu olhando pro motorista querendo que o mundo
acabasse ali ou que uma bomba explodisse e tudo deixasse de existir. Aí o
motorista correu as vistas pelo todo do ônibus e fitando-me de novo, começou a
querer rir e eu disse: –Se tu rir eu choro bem aqui. Caímos todos numa
gargalhada coletiva mas tão desconcertante que quando cessou, imperou-se de
novo o silêncio da morte. Sem saber o que dizer e com vergonha de dizer, eu só
disse: –E agora? Ele ainda de olhar arregalado, respondeu: –Agora lascou. Criei
coragem e disse: –Tem mais dinheiro não?
Ele respondeu: –Agora que lascou foi tudo. Rimos de novo, mas um riso contido a
procurar buraco pra esconder a cara. Ele pensou um pouco e disse: –Senta aí, –e
me apontou o tampão do motor– vai aqui mesmo e lá tu sai pela entrada que aí é
como se tu num tivesse nem entrado. Eu disse: –Tá –e sentei.
Tava
quente, bem quente aquele tampão de plástico duro, mas num tive nem coragem de
me levantar. Chegando no meu destino ele parou e me olhou. Eu o olhei, levantei
e desci sem dizer nada. Lá de fora virei e ele tava me olhando com o canto da
boca meio subindo e a veia da goela quase a saltar do pescoço; acho que tava
querendo rir mais de mim. Se riu se não riu eu num sei, pois virei as costas e
saí num caminhar tão ligeiro que parece que nem pisava no chão, ia flutuando.
Eu caminhava mas parecia estar voando e com aquela sensação de não existir. Foi
essa talvez a maior vergonha que já passei na vida por causa de uma catraca que
rodei e num passei. Credo em cruz! À tarde volto por outra rota, mais aquele
motorista quero ver mais não.”
Rimos
todos e o dia começou mais leve e alegre pela alegria de Charliedson que fazia
graça até na dificuldade. Um ano se passou e passou o seu estágio e ele se foi.
Acho que foi por aí a clarear onde é escuro, pois foi o que ele fez aqui
durante a sua estadia. Estou com medo que a escuridão volte ao nosso viver como
antes de Charliedson. Por isso sigo lendo a sua lição e sereno e confuso, vou
estagiando a nossa permanência no estágio em que ele nos deixou. De graça e de
paz, mesmo quando graça e paz não nos forem presentes. De sol e de luz mesmo
quando as sombras insistirem em nos escurecer.
Roberval Paulo
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
QUE O NATAL SEJA SÓ O NATAL - Roberval Paulo
O menino Jesus nasceu!
Num estábulo, uma manjedoura,
em meio aos animais. Em um ambiente rústico e pobre, mas, carregado da energia
vital do existir e da essência viva da vida na natureza. Trouxe em si a
simplicidade para o mundo e a humildade das almas generosas.
O menino Jesus nasceu! Não
tinha mansões, nem castelos, nem riqueza, nem tão pouco ostentação. O
berço foi arquitetado ali, na hora e, astuciosamente, feito com palhas, a
matéria prima disponível no ambiente e que agasalhou bem alcochoadamente
aquele minúsculo corpinho cheio de divindade e o aqueceu do seu próprio calor;
o calor da vida em sua total plenitude.
O menino Jesus nasceu e
não trouxe consigo poder nem ouro; nem palácios, nem reis. Não trouxe ambição
ou egoísmo, muito menos soberba, ou preconceito. Nem inveja, nem luxo; nem
maldade e nem destruição.
O menino Jesus nasceu e
trouxe sim, a construção de um mundo novo.
A boa nova foi anunciada e
o verbo de Deus se fez carne, para habitar a terra e salvar a humanidade tão
sem rumo, cumprindo-se assim as escrituras sagradas.
O menino Deus nasceu e
trouxe à humanidade, o amor perdido, esquecido e sepultado na ambição e egoísmo
dos homens. Trouxe simplicidade e humildade; trouxe generosidade e os
ensinamentos para uma vida reta, justa, digna e repleta de amor de uns
para com os outros.
O menino Jesus, nosso Deus
e Salvador; nosso ser onipotente e divino tornou-se carne; tornou-se homem para
a salvação da humanidade, sua imagem e semelhança.
E, na sua pureza de homem
santo, foi perseguido. Foi julgado, condenado e sacrificado, sentindo no
corpo e na alma, a dor e o abandono daqueles que tanto amou e ama, feitos, por
amor, à sua imagem e semelhança.
Jesus Cristo morreu
pregado no lenho da cruz para a salvação do mundo.
Quanto sacrifício! O
sacrifício da própria vida por aqueles que o negaram e renegaram e o
abandonaram, lavando as mãos.
A vida venceu a morte, é o
que nos é pregado. Será que realmente venceu?
Como a vida venceu se
continuamos a morrer todos os dias. Não estou aqui falando da morte em seu
sentido literal e natural.
Estou falando da morte que
sofre a sociedade todo dia.
A morte pelo desprezo, pelo
descaso, pelo abandono.
A morte pela
exclusão, discriminação; a morte pelos preconceitos.
A morte pela ambição e
egoísmo dos que querem sempre mais, não se importando com a vida dos seus
iguais.
A morte pela acumulação de
riquezas que confinam no curral da miséria sociedades inteiras que mais
parecem bichos largados e caminhando sem destino, aguardando a hora não
programada da triste partida.
A morte protagonizada
pelos artistas-vilões mor dos sistemas e organizações políticas que rezam nas
suas constituições o cuidado e o zelo com a população.
A morte pela falta de amor
do homem para com o homem.
A morte pela falta de amor
do homem para com o seu igual, unicamente.
O menino Jesus nasceu.
É Natal. É Natal!
É Natal?
É Natal e eu não sei o que
fazer nem o que dizer.
É natal e tudo continua
igual como se o natal já fosse antes do nascimento.
Jesus Cristo nasceu
e...que ele não volte senão o matariam de novo.
Que Jesus só habite em
nossos corações. Em todos os corações da humanidade e das vidas todas.
E que o natal
seja...........................................................Natal. Somente
Natal...
Roberval Paulo
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
LIÇÃO DA VIDA - Roberval Paulo - Texto publicado no Jornal do Tocantins de 16/12/2019
CRÔNICAS & CAUSOS
Aconteceu no estacionamento de um shopping. Era domingo, tarde de
domingo, ocasião em que os shoppings estão cheios. O estacionamento nem se
fala. Parece mais congestionamento da Avenida Brasil e Marginal Tietê, juntas.
O sol flutuava majestoso num céu claro de azul distante e já descambava para o
poente, anunciando o crepúsculo com seus efeitos áureos e enfumaçados. Na
terra, outro crepúsculo. O da correria da humanidade. Formigas desesperadas, em
todas as direções, sem destino certo. Correr por correr. Comer pipocas, tomar
sorvetes, cervejas; beliscar, patinar, faz-se tudo. Cinema! Ah! Cinema nas
tardes de domingo; nada mais romântico. Correria total! Aventureiros e
exploradores, sem eira nem beira, dos prazeres da vida. Do bom bate papo, do
entretenimento, do descanso e do sossego. Da novidade das caras novas, do
flerte. Do lazer da família em busca da paz tão sonhada do fim de semana, nessa
bagunça infernal. Caos! Tudo em movimento, tudo anda, ou melhor, corre. Até os
seres inanimados das lojas e vitrines parecem adquirir vida.
É tanta confusão e magia que até me perdi no texto. O que eu queria
mesmo era contar um episódio que se deu no estacionamento de um shopping, numa
tarde de domingo e, perdido em meio à multidão, acabei aderindo à confusão e
correria dos shoppings nos fins de semana.
Bem, vamos ao fato; agora ele acontece. Carros passeiam entre as
filas à procura de vagas, perfilados como um pelotão de soldados, não
necessariamente naquela mesma ordem. Uns entrando, outros saindo, buzinando,
aguardando. Foi aí que se deu o já anunciado acontecimento.
Uma camioneta último tipo caminhava inquieta e nervosa por entre seus
colegas, à procura de um espaço para descansar seu designer perfeito e tão
harmoniosamente disposto sobre suas quatro rodas, reluzentes e imponentes,
levando em seu interior um cidadão de meia idade, não tão último tipo quanto
ela, "a camioneta", mas considerado um bom partido entre as moças
casadoiras.
Não muito distante dali, um pouco mais atrás, um fusquinha ano 67,
desesperado e ofegante da tão longa jornada e já gasto pelas marcas do
trânsito, garimpava um espaço para repousar sua maltratada estrutura
que vinha gemendo e grunhindo, mal agasalhado que estava em cima daquelas
quatro rodas tão bem desfiguradas, levando em seu lado de dentro uma senhora já
na melhor idade, – aquela mais perto do outro lado – de óculos, feições gastas
pelo tempo, mas conservando em seu semblante aquele longínquo arzinho de garota
levada.
Eis que de repente a camioneta passa por um espaço em aberto, de onde
acabava de sair o próprio Henry Ford. Num grito de triunfo e mais que depressa,
pisa no breque, liga a seta e engrena marcha a ré e, já em movimento contrário,
procurando o retrovisor para se orientar, dá de cara, ou melhor, de costas com
o fusquinha que, numa manobra digna de um fórmula um, arremete-se ao
espaço a pouco vago, fazendo-o seu, deixando desolada a camioneta que
vislumbrara primeiro essa tão disputada e singular vaga.
O condutor da camioneta aciona o freio de mão, apeia, caminha na direção
do fusquinha dirigindo-se à velha senhora. Argumenta e reclama, porém,
elegantemente.
– Minha senhora, a vaga era minha, eu vi primeiro. Não foi correta a sua
atitude.
A senhora olha de soslaio para o cavalheiro e num ar de deboche,
sentindo-se vitoriosa, arremata.
– O mundo é dos mais espertos doutor.
– Mas... –redarguiu o senhor, no que foi interrompido.
–Não tem mais nem meio mais doutor; o mundo é dos mais espertos.
O cavalheiro, boquiaberto, parece não acreditar no que acaba de ouvir.
Sem palavras para responder, perde as estribeiras, deixa de lado a razão. Dá
meia volta e entra na camioneta, nervosa. Fazendo roncar o motor, promove uma
ousada manobra e projeta-se na direção do fusquinha que, descansado e
desprevenido, não teve forças nem tempo para reagir. O choque foi forte. Um
estrondar bombástico e o fusquinha está despedaçado, partido ao meio. Um
amontoado de lata e ferro retorcidos.
A camioneta faz nova manobra, parando ao lado do fusquinha e da velhinha,
e seu condutor, botando fogo pelas ventas e com a raiva de mil siris em latão
de água fervente, dispara em gritos.
– O mundo não é dos mais espertos não minha senhora. O mundo é dos que
tem dinheiro.
Faz um ligeiro aceno de mão e arranca a toda velocidade, deixando para
trás uma mistura em resíduos de asfalto e óleo no olhar assombrado e
espantado da pobre senhora que, incrédula, olha desesperada o monte de ferro e
lata que há segundos atrás era a sua condução. Lágrimas de esperteza e ferrugem
se unem num chorar tão doído que nem o arrependimento duo, de velha e de fusca,
é capaz de conter.
Dois corações marcados pelo tempo e pelo trânsito, recebendo da vida,
ainda que tardio, a lição de que, mesmo na urgência ou necessidade, a
humildade e o respeito ao direito do outro devem prevalecer, sendo estes a tônica
para o entendimento, evitando assim o risco da desonra e da humilhação.
Roberval Paulo
terça-feira, 10 de dezembro de 2019
PRA QUANDO EU PENSAR EM FALAR! - Roberval Paulo
Quando
tiver que falar, fale.
Se
tens algo a declarar, declare.
Não
segure as emoções
Nem
os sentimentos
Quando
de alguém gostar,
diga
que gosta
Se a alguém amar,
diga
que ama.
Tudo
é tão fugaz!
Tão
rápido!
Que
o tempo se desfaz
Numa
vírgula do tempo
E
não mais haverá
Nem
tempo nem vento
Nem
o que disse
Ou
deixou de dizer
Nada
mais será
Nada
existirá
Nem
quem ama
Nem
o ser amado.
Seja presente!
Não seja passado!
Roberval
Paulo
SOLIDÃO! - Roberval Paulo
Não,
não me curvo
Não
me curvo nem me curvarei
Mas
também não me levanto
diante
da solidão
Antes
me faço contemplativo e reflito
Reflexão
cura até dor de engasgo.
Não
me tragam novidade sem visitar o velho
Não
e não, pelo amor de Deus!
Que
o novo venha,
mas
venha no seu natural,
no
seu tempo.
Não
apressem a curva da vida
Não
tropecem no seu falar e língua
Não
queiram de mim
o
que não lhes posso dar
Se
pressas têm, sigam sozinhos
Sigam
sozinhos e deixem-me
com
as minhas muitas flores
e dores
Que
delas
saberei
cuidar
E
delas saberei
extrair
a luz.
Extrair
a luz
Reluzir o meu dia
Voltar à harmonia
e
à paz que tanto almejo.
Roberval Paulo
ENAMORADO - Roberval Paulo
Ontem me vi
no espelho da lua
e ela, sorrindo,
me disse, sou tua.
E é a lua,
desde ontem,
a minha mais nova namorada...
Roberval Paulo
no espelho da lua
e ela, sorrindo,
me disse, sou tua.
E é a lua,
desde ontem,
a minha mais nova namorada...
Roberval Paulo
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
O PARTIR ANTES DO TEMPO - Roberval Paulo
Às vezes penso que o segredo de tudo está nos porquês?
Penso e repenso até o mundo ficar tenso
Inclinado, descaído, pendido, penso…
Penso, só penso!
Mas não me atrevo a dizer.
Penso e repenso até o mundo ficar tenso
Inclinado, descaído, pendido, penso…
Penso, só penso!
Mas não me atrevo a dizer.
Porque se vem, porque se vai?
Porque que vem quem nada tem?
Por que um ser se detém antes mesmo de nascer?
O porquê de se ficar tão pouco tempo aqui
O porquê de se passar tanto tempo sem medida
Na subida desta vida sem este sol merecer.
Porque que vem quem nada tem?
Por que um ser se detém antes mesmo de nascer?
O porquê de se ficar tão pouco tempo aqui
O porquê de se passar tanto tempo sem medida
Na subida desta vida sem este sol merecer.
Penso também que é porque não existe um por quê?
O porquê é só um ser mais enigma que razão
Não um ser, uma equação que se vai a resolver
Que ninguém conhece a fórmula,
Que não perece, renova, sem nunca ao seu fim chegar
Qual romeiro em romaria pelo caminho sagrado
Que segue desarvorado só com o instrumento da fé
Novena que só rezando faz um milagre danado
Sem nada ser explicado, sem porque, sem paramento
Mas que segue devorando
Homens, sonhos, pensamentos
Semeando contra o vento a planta do bem virá.
O porquê é só um ser mais enigma que razão
Não um ser, uma equação que se vai a resolver
Que ninguém conhece a fórmula,
Que não perece, renova, sem nunca ao seu fim chegar
Qual romeiro em romaria pelo caminho sagrado
Que segue desarvorado só com o instrumento da fé
Novena que só rezando faz um milagre danado
Sem nada ser explicado, sem porque, sem paramento
Mas que segue devorando
Homens, sonhos, pensamentos
Semeando contra o vento a planta do bem virá.
Porque se vai pela estrada sem ter chegado a sua hora?
Tanta dor deixa pra trás, tanto sofrer… Oh! Tormento!
Quanta saudade a encher o existir do meu peito
Angústia que quase mata que é um tanto doer!
Que não explica, se sofre,
Que nada entende, só sente
Que não quer este presente que a vida lhe fez herdar
Quer até recomeçar, mas não tem forças… é inclemente.
O sangue de um inocente que o inevitável levou
O cálice que derramou antes do seu transbordar
Como entender o porquê da vida interrompida
Sem um motivo aparente, sem a razão se mostrar.
Tanta dor deixa pra trás, tanto sofrer… Oh! Tormento!
Quanta saudade a encher o existir do meu peito
Angústia que quase mata que é um tanto doer!
Que não explica, se sofre,
Que nada entende, só sente
Que não quer este presente que a vida lhe fez herdar
Quer até recomeçar, mas não tem forças… é inclemente.
O sangue de um inocente que o inevitável levou
O cálice que derramou antes do seu transbordar
Como entender o porquê da vida interrompida
Sem um motivo aparente, sem a razão se mostrar.
Penso que é por quê… Não sei dizer o porque
Talvez nem tenha porque, talvez tenha. O que fazer?
É o mistério da vida que segue pregando peças
Não deixa aresta nem brecha para um porque indagar
Só nos resta o consolar compassivo de meu Deus!
Oh! Deus de misericórdia! Deus de bondade infinita!
Já que sofri esse golpe que não pedi pra sofrer
Dê-me forças pra viver… pra vida continuar.
Talvez nem tenha porque, talvez tenha. O que fazer?
É o mistério da vida que segue pregando peças
Não deixa aresta nem brecha para um porque indagar
Só nos resta o consolar compassivo de meu Deus!
Oh! Deus de misericórdia! Deus de bondade infinita!
Já que sofri esse golpe que não pedi pra sofrer
Dê-me forças pra viver… pra vida continuar.
Cubra-me com o teu amor, com tuas bênçãos Senhor
Mostre-me o prosseguir, me guie com o teu olhar
Sou só dor, sou um ser andante que se perdeu no caminho
A força deste destino eu não queria viver
Mas se me deste é porque me conheces mais que eu
Vais saber como amparar seus filhos que estão perdidos
Senhor Deus, me dê motivos e me livre de morrer
Nos oriente a encontrar a razão de estar aqui
Eu não sei mais nem porque estou a sofrer assim
Porque a tirou de mim? Porque nos deixou tão só?
Mostre-me o prosseguir, me guie com o teu olhar
Sou só dor, sou um ser andante que se perdeu no caminho
A força deste destino eu não queria viver
Mas se me deste é porque me conheces mais que eu
Vais saber como amparar seus filhos que estão perdidos
Senhor Deus, me dê motivos e me livre de morrer
Nos oriente a encontrar a razão de estar aqui
Eu não sei mais nem porque estou a sofrer assim
Porque a tirou de mim? Porque nos deixou tão só?
Meu Jesus! A tua benção, tua guia e proteção.
Ensine-me a não morrer, dê-me os porquês do ocorrido
Porque que me tens nascido pra suportar tanta dor?
Meu Senhor! Só o teu amor pode enfim me redimir
Ajude-me a persistir nesse caminho de morte
Dê-me um norte que preciso o teu amor encontrar
A vida continuar, nova razão existir
Meu Jesus! O teu perdão, que essa cruz que te chagou
Seja a mesma a me valer pra tua luz eu seguir.
Ensine-me a não morrer, dê-me os porquês do ocorrido
Porque que me tens nascido pra suportar tanta dor?
Meu Senhor! Só o teu amor pode enfim me redimir
Ajude-me a persistir nesse caminho de morte
Dê-me um norte que preciso o teu amor encontrar
A vida continuar, nova razão existir
Meu Jesus! O teu perdão, que essa cruz que te chagou
Seja a mesma a me valer pra tua luz eu seguir.
Que eu possa um dia entender que assim é que tinha que ser
Que tudo valeu a pena e que nada foi em vão.
Que tudo valeu a pena e que nada foi em vão.
Amém Senhor! O teu perdão!
Roberval Paulo
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