segunda-feira, 17 de junho de 2013

MACIEL MELO - O homenageado no São João do Recife 2013

Música: Há 30 anos Maciel Melo traduz 'sertanidade' em versos e melodias

Músico é o homenageado deste ano do São João do Recife. 
A data é comemorada ainda com lançamento de CD, DVD e autobiografia.

Maciel Melo (Foto: Luna Markman / G1)
No ano em que festeja três décadas de carreira, o sertanejo Maciel Melo é homenageado no São João do Recife, lança CD, DVD e autobiografia (Foto: Luna Markman / G1)
Maciel Melo ainda era o "Neguinho de Heleno" quando vendia picolé e engraxava sapato para ajudar o pai Heleno Louro, agricultor e mestre sanfoneiro que animava festas de Iguaraci, no Sertão pernambucano, a 363 km do Recife. Trocou o Rio Pajeú pelo São Francisco, em Petrolina, trabalhando em escritórios. Aos 20, decidiu abraçar a carreira de músico, considerada "vagabundice" no interior, e rumou para a capital. Esse é o marco inicial da carreira deste caboclo sonhador, que está completando 30 anos, celebrados com lançamento biografia, disco, DVD e uma homenagem do São João do Recife. Ter a música "Rainha" na trilha da novela global "Flor do Caribe" também é um presente.
A canção é uma homenagem à mãe dele, Maria de Lourdes, escrita há anos, gravada apenas no disco "Sem ouro sem mágoa" (2009).  "Oh Maria Lourdes da Labuta/ Em Sumé foste doce, amarga e bela/ Paraíba foi tua passarela/ Pernambuco te trouxe a sedução/ O destino entregou tua missão/ Onze itens [filhos] a ti foi destinado/ E a lei que constitui o teu reinado/ Foi escrita com a tinta do perdão", diz a letra. Já "A poeira e a estrada" é o nome da biografia, escrita pelo próprio Maciel Melo durante os últimos três anos, que será lançada na segunda-feira (17), no Paço Alfândega, no Bairro do Recife, às 19h, junto com uma exposição sobre a carreira do artista.

Maciel Melo (Foto: Luna Markman / G1)
 Maciel gosta de escrever e acha que ninguém melhor que ele pode contar o que viu, ouviu e viveu. "Eu sempre escrevia e guardava textos sobre assuntos que giravam em torno da geografia cultural e política do Pajeú, então resolvi reunir num livro. É a história do Neguinho de Heleno que saiu para o mundo para vencer, e fui floreando aqui e ali, romanceando passagens. Não tem uma ordem linear", explicou em entrevista ao G1, durante passeio de carro por mais de hora, amansando o trânsito bravo do Recife.
Um CD e um DVD homônimo ao livro devem ficar prontos até julho. O DVD foi gravado em 2012, no Teatro da Boa Vista, e contou com a participação de Chico César, Jessier Quirino, Jorge de Altinho, entre outros. O disco "Minha metade", lançado este ano, é comemorativo aos 30 anos de carreira. São 14 faixas, sendo duas regravações de Luiz Gonzaga, onde Maciel canta com Alceu Valença ("Assum preto") e Zeca Pagodinho ("Qui nem jiló"). As outras são xotes, baiões, toadas e canções inéditas, com participações de Zé Ramalho, Fagner, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Dominguinhos e Quinteto Violado.
Este último grupo pernambucano, inclusive, foi quem batizou Maciel Melo como compositor, ao gravar a música "Erva doce", em 1985. A banda fazia enorme sucesso naquela época, e a canção estourou. O artista já morava no Sudeste do País. É que depois do Recife, ele mudou-se para São Paulo, onde compôs "Caboclo sonhador", em 1982. "Ela é uma espécie de carta musicada para minha família. Estava no centro financeiro do País para tentar ser artista, ninguém ia mudar minha cabeça", contou.

Os primeiros versos da letra mandam exatamente esse recado: "Sou um caboclo sonhador/ Meu senhor, viu?/ Não queira mudar meu verso/ Se é assim não tem conversa/ Meu regresso para o brejo/ Diminui a minha reza". Mas a saudade de casa estava no matulão do sertanejo: "Mergulhado nos becos do meu passado/ Perdido na imensidão desse lugar/ ao lembrar-me das bravuras de Neném [irmã mais velha de Maciel]/ perguntar-me a todo instante por Baía [irmã]/ Mega e Quinha [irmãos], como vão? tá tudo bem?/ Meu canto é tanto quanto canta o sabiá".
A composição só foi descoberta dez anos depois por Flávio José, que estava no auge da carreira e a gravou. Fagner também, popularizando-a ainda mais em todo o Brasil. O cantor cearense afirmou que a canção era um divisor de águas, ao recriar o forró nordestino na década de 1990. O diferencial de Maciel Melo eram as melodias habilidosas e as temáticas novas. "Eu sempre tive preocupação grande com a poética, a qualidade dos arranjos. Em 'Caboclo sonhador', por exemplo, uso palavras que não são rotineiras no forró. A minha intenção era fazer algo que não fosse banal, que botasse as pessoas para pensar e questionar", falou.


Esse talento foi reconhecido desde cedo, quando gravou o primeiro disco, "Desafio das léguas", em 1989, já com participações luxuosas de Vital Farias, Xangai, Décio Marques e Dominguinhos. Na época, ele morava em Salvador e estava envolvido com a musicalidade local. "Foi num show lá que conheci Dominguinhos e perguntei se dava para colocar a sanfona dele no meu disco, e marquei para o outro dia. Achava que ele nem ia lembrar, mas quando cheguei no estúdio ele estava lá embaixo, me esperando. Foi quando vi a grandeza dele, a genialidade, simplicidade, vai deixar um legado enorme para nós", lembrou.
Maciel Melo (Foto: Luna Markman / G1)
 Maciel Melo faz letra e melodia. Tem centenas músicas no papel e quase 200 gravadas. Paulinho da Viola e Djavan são intérpretes ainda desejados. Na música universal, urbana, elegeu Chico Buarque como compositor favorito. Já o poeta da música regional, para ele, é Zé Dantas, um dos grandes parceiros de Luiz Gonzaga, nascido também no Sertão do Pajeú, em Carnaíba. "A música que eu faço é a que Gonzaga gostava de cantar. Até pelo fato de eu ser discípulo dele e ter saído do Sertão com a minha personalidade formada, mantenho viva a ‘sertanidade’ na minha obra, as tradições e costumes do povo como temas, a aridez nas canções. Acho que 20% das minhas letras ele gravaria", palpita.

Homenagem

Iguaraci foi o berço de tudo, onde o Neguinho de Heleno ouviu os primeiros sons da sanfona do pai, das violas dos repentistas, a poesia dos cantadores. Quem chega lá vê na entrada da cidade a placa que diz "Terra de Maciel Melo". Agora, é a vez de o Recife, cidade onde mora, celebrar o artista. "Fico muito feliz com o reconhecimento dos meus conterrâneos. E quando fui indicado para ser o homenageado do São João aqui fiquei até meio silencioso, por causa da responsabilidade de ser escolhido entre tantos, pois Pernambuco é o celeiro do Nordeste. Estou honrado porque isso é prova que meu trabalho é útil."


Sabendo que sua música vai longe, Maciel não deixa de usá-las como protesto, como fez em
"Pingo d'água" e "Meninos do Sertão", esta última gravada em 2000 por Zé Ramalho. "Acho que a função da gente não é só entreter, mas denunciar, questionar. Tem gente que é alienada, se for falar de política some, mas escuta se for música. Então essa é uma maneira de chegar aos ouvidos dos desatentos", comentou. As letras do sertanejo podem ser duras, mas amolecem os quadris, são feitas para dançar. Ele muda arranjos e até usa guitarra elétrica, mas nunca fere a essência do que acredita ser o verdadeiro forró. "Pode me chamar de cafona/ Eu gosto é de sanfona/ Eu gosto é de forró", canta seus versos de "O Velho arvoredo".

 Serviço
Lançamento do livro "A Poeira e a Estrada", de Maciel Melo
Segunda-feira (17), às 19h
Paço Alfândega - Rua da Alfândega, 35, Bairro do Recife
Maciel Melo  (Foto: Divulgação)
Maciel Melo, durante show que virou DVD (Foto: Divulgação) 
 Luna Markman - Do G1 PE
Extraído por mim do Blog Cantigas e Cantos

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